Nosso SUS de cada dia...
1. A Lei
"Em 19/9/1990 foi assinada a Lei número 8080 que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes, instituindo o Sistema Único de Saúde (SUS)... Com a sua criação, o SUS proporcionou o acesso universal ao sistema público de saúde, sem discriminação...".
2. Princípios do SUS
Universalização: a saúde é um direito de cidadania de todas as pessoas e cabe ao Estado assegurar este. Seu acesso deve ser garantido a todas as pessoas, independentemente de sexo, raça, ocupação ou outras características sociais ou pessoais.
Equidade: o objetivo deste princípio é diminuir as desigualdades. Apesar de todas as pessoas possuírem direito aos serviços, as pessoas não são iguais e, por isso, têm necessidades distintas. Em outras palavras, equidade significa tratar desigualmente os desiguais, investindo mais onde a carência é maior.
Integralidade: este princípio considera as pessoas como um todo, atendendo a todas as suas necessidades. Para isso, é importante a integração de ações, que vão desde a promoção da saúde, a prevenção de doenças, o tratamento e a reabilitação,, o que significa a articulação da saúde com outras políticas públicas (...) que tenham repercussão na saúde e qualidade de vida dos indivíduos.
3. Direitos dos Usuários do SUS
A "Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde" traz informações para que o cidadão conheça seus direitos na hora de procurar atendimento de saúde. Ela reúne os seis princípios básicos de cidadania que asseguram ao brasileiro o ingresso digno nos sistemas de saúde, seja ele público ou privado:
- Todo cidadão tem direito ao acesso ordenado e organizado aos sistemas de saúde;
- Todo cidadão tem direito a tratamento adequado e efetivo para seu problema;
- Todo cidadão tem direito ao atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer discriminação;
- Todo cidadão tem direito a atendimento que respeite a sua pessoa, seus valores e seus direitos;
- Todo cidadão também tem responsabilidades para que seu tratamento aconteça de forma adequada;
- Todo cidadão tem direito ao comprometimento dos gestores da saúde para que os princípios anteriores sejam cumpridos. (Fontes: Conselho Nacional de Saúde e Ministério da Saúde).
4. A Realidade
Semana passada completou um mês do falecimento de minha mãe ocorrido no dia 6 de dezembro de 2021. Falar da sua morte é difícil, mas no fim da sua vida ela teve a dignidade que não lhe foi dada nas 24 horas que antecederam sua partida.
No sábado, 5 de Dezembro, por volta das 21 e pouco, cheguei à casa dela, logo após receber o telefonema do meu irmão Luis dizendo que estava chamando o Samu. Cheguei em menos de 5 minutos. Fui ao quarto. Ela estava sentada. Seu rosto estava desfigurado... os olhos vidrados e a respiração ofegante, desesperada, dizendo que não estava enxergando nada e que ia morrer. Então chega o Samu. E até o momento em que foi levada de casa e colocada na uti semi-intensiva do pronto socorro foi como se o tempo tivesse parado.
Em dado momento, uns 10 minutos após sua chegada na Uti, um médico (supus q fosse um, mas não se apresentou) me disse que se nos próximos 4, 5 minutos, minha mãe não respondesse à medição dada, "iria a óbito". E só. Mais nada.
No dia seguinte, por volta das 7 da manhã, consegui falar com um enfermeiro que apareceu lá na recepção por puro acaso, já que ninguém tinha resposta para me dar sobre a madrugada da minha mãe.
Ele me disse um monte de coisa médica, medicação trombolítica, de alto custo, não sei o que mais. O estado de saúde dela um médico viria dizer após passar o plantão. Não veio. Ninguém veio.
Nem a ambulância que levaria minha mãe à Sorocaba para realizar um Cateterisma, um exame básico que não temos em Itapetininga. Sairíamos apenas às 15h, pois a ambulância estava atendendo um chamado em Sorocaba, disseram.
Soubemos que a demora, na verdade, se dava porque Itapetininga não tem uma ambulância que seja também uti móvel, e era o que a levaria a Sorocaba. Olha o absurdo!!!
Às 19h alguém perguntou sobre a acompanhante de minha mãe. Pensei, agora vai. Não ainda. Era o gestor do hospital que veio se apresentar e dizer que até as 21h minha mãe seria levada para Sorocaba. Não soube dizer como ela estava. E nenhum médico tão pouco apareceu.
Finalmente, a ambulância chegou... eram mais de 21h. Talvez 21h30, não sei precisar. O importante é que chegou, pensei. Por volta das 23h, chegamos no Hospital Adib Jatene.
Após a internação, me chamaram. Uma médica se apresentou, e ali no corredor, muito educada e carinhosa até, começou a discorrer, finalmente, sobre o estado de minha mãe. Eu tentava processar tudo o que ela dizia; consegui captar q ela estava dizendo que minha estava morrendo e perguntei a ela, q respondeu que sim, mas dependeria, principalmente, de como minha mãe responderia ao processo de Cateterisma. Então, pude ver minha mãe.
Balbuciava coisas. As mesmas que balbuciava na ambulância. Perguntou se estava tudo bem na casa. Está, mãe, está tudo bem. Perguntou onde estava o Luis. Foi no Lobão, mãe. Pela primeira vez a senti serena. Então dei um beijo em sua testa e saí. Não sabia, mas seria a última vez que a veria com vida.
No corredor a médica disse que eu deveria ir descansar. Que me chamaria, que tudo daria certo e que minha mãe estava sendo bem cuidada. Minha cunhada veio me buscar. Dormi um pouco e a 1h15 da manhã uma ligação me levou de volta ao hospital. A mesma médica, no mesmo corredor, deu a noticia do óbito e me abraçou. Segurou e apertou minhas mãos.
Minha mãe não aguentou fazer o Cateterisma e sofreu uma parada cardíaca. Saí do hospital por volta das três da manhã.
5. Conclusão
Alguma coisa estava muito errada no atendimento que nos foi fornecido em Itapetininga. Onde ficaram os "Princípios do SUS" acima descritos? O Sistema SUS pode, em sua origem, ser bom. No entanto, para ser considerado humano e digno, é preciso dar humanização e dignidade a quem o procura. Para alcançar este objetivo, há que se preparar médicos e enfermeiros para aplicarem tal dignidade e humanização.
Não falo apenas da precariedade do Sistema em nossa cidade, falo da precariedade humana, mas sobretudo falo da precariedade médica. Não houve o tão propalado "acolhimento". Nenhum médico nos procurou naquelas fatídicas 24 horas em nosso Pronto Socorro. Nenhum!
Dou graças ao bom Deus pelas últimas duas horas de vida de minha mãe lá no Hospital Adib Jatene, em Sorocaba.
Agradeço o abraço que recebi da jovem médica que deu a notícia da morte de minha mãe. Dignidade e humanização só dá quem tem para dar.
Não basta o sistema funcionar no papel ou numa cidade aqui e em outra acolá. A exceção deveria ser o mal atendimento e não a regra. Não tenho plano de saúde particular para internação hospitalar.
A maioria dos brasileiros não tem. Só temos o SUS. Se o Sistema SUS é bom, essa "bondade" precisa chegar cotidianamente a nós, brasileiros. Já!
Uma homenagem à minha mãe: o pé de manjericão que ela tanto cultivava e amava, continua lindo e cheio de abelhinhas! 🥰❤💙💛🥰
Que triste Cristina, meus sentimentos mas assim é a saúde nesse nosso querido Brasil, deque adianta uma saúde "GRATUITA" mas com péssimo atendimento e isso porque é com o nosso dinheiro, triste realidade
ResponderExcluirObrigada, Dagoberto.
ResponderExcluirTina, minha querida prima que saudades de vocês. Li e cada palavra,linha,era uma lágrima, saudades da minha palmeirense 🙏❣️🌻
ResponderExcluirPrima, foi difícil e muito angustiante...😭
ExcluirFoi muito triste, angustiante, não pensei perder minha irmã dessa forma. Um pouco mais de atenção no primeiro atendimento talvez fosse o suficiente p tê-la conosco ainda. Muito triste , pois um ato ágil salva uma vida.
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